A alegoria como poética do (ex)combro em Manoel de Barros: uma visada benjaminiana
Resumo
Walter Benjamin foi dos pensadores que mais adequadamente discutiu a dialética da história como um movimento de extremos, isto é, como experiência presente empobrecida diante das glórias do passado, o que dissimula, ironicamente, uma outra formulação, exposta na IX tese “Sobre o conceito de história”: nela ele apresenta a interpretação da alegoria (ex)posta no Angelus Novus, de Paul Klee, como a “facies hippocratica da história” (Benjamin 1984), pensando
essa imagem como “o cerne da visão alegórica” (ibidem). A seu tempo, Manoel de Barros dialoga tanto com Klee quanto com Benjamin, num movimento de (ex)posição de cenas episódicas/fragmentos de uma natureza sempre em estado de violência, sofrimento, tédio e morte, apesar de uma aparência de exuberância e de abundância. Neste ensaio, propomo-nos discutir/ler na poesia de Barros essas construções poético-alegóricas da natureza, à luz especialmente da Origem do drama barroco alemão e da tese IX de “Sobre o conceito de história” de Walter Benjamin (1984 e 1986, respectivamente), além de textos de Jeanne Marie Gagnebin (2013) e de Michel Löwy (2005) sobre a alegoria na visada benjaminiana.