Breves notas sobre a ética a partir de Adília Lopes
Resumo
Este artigo pretende demonstrar como, nos poemas de Adília Lopes, a maldade tem impacto psicológico e interpessoal em episódios em que muitas vezes se estabelece um pacto autobiográfico. A maldade manifesta-se como vaidade, hipocrisia social ou vontade de poder, também denunciadas no mundo da arte. Na poesia de Adília, a pessoa sempre se sobrepôs à grandeza pressuposta na noção de autor. A sua obra desconstrói lugares comuns da linguagem por forma a atestar a arrogância da ideologia. Consubstancia uma ética e um desejo (segundo o Roland Barthes final) que tenta vencer o desencanto: existe a possibilidade de se ser “mulher-a-dias”, de viver cada dia entregue a textos, leituras e ao exigente ofício da bondade. Talvez Adília Lopes seja a legenda mais acertada para as suas fotografias de infância e juventude, o nome de guerra com que a autora civil vive a sua vocação.