Salette Tavares e a troca de 'surpresas vindas das próprias mãos'
DOI:
https://doi.org/10.21747/21828954/ely22a5Resumo
A obra de Salette Tavares coloca-nos perante a impossibilidade de separar a sua produção espacial do trabalho desenvolvido ao nível da ficção, da prosa, do ensaio ou da poesia verbal. Embora a exploração dos processos de espacialização se tenha intensificado nas décadas de 1960 e 1970, bastaria recorrer-se a volumes como Poesia Espacial / Spatial Poetry (2014) ou à recém-publicada Obra Poética (1957-1994) (2022) para constatar a existência de múltiplos poemas espaciais criados nos anos 1950. Neste sentido, noções como transposição, montagem, mistura, multiplicação e replicação têm-se revelado particularmente úteis para pensar a obra da autora. Partindo do princípio de que a dádiva assenta numa estrutura de reciprocidade, e refletindo sobre a troca como um gesto político de repetição, este artigo debruça-se sobre os Diálogos Criativos estabelecidos pela poeta com a sua esfera íntima (filhos e amigos da família), ao mesmo tempo que procura pensar o ato de reciclagem enquanto experiência específica do mundo.