Apresentação
DOI:
https://doi.org/10.21747/21828954/ely23aprResumo
Ao longo das últimas décadas, a relação entre a palavra e a imagem sofreu profundas transformações. Na generalidade das práticas artísticas – visuais, audiovisuais, literárias, performativas –, a fluidez e a contaminação entre os processos criativos tradicionalmente associados à imagem e à palavra têm vindo a ganhar um protagonismo cada vez maior. Nas suas formas, intenções e contextos de receção, as transformações em curso resultam de novas realidades mediais, como a digital. Segundo Jacques Rancière, em O Destino das Imagens (2003), a potência da frase-imagem tem vindo a encontrar diversas formas de expressão, sendo que, na formulação deste conceito, nem a noção de frase corresponde ao dizível, nem a noção de imagem se circunscreve ao visível. A frase-imagem é, antes de mais, uma operação que desfaz a relação interpretativa entre a imagem e a palavra, e confronta a polaridade presente na asserção horaciana ut pictura poesis, tantas vezes lida de forma redutora: na verdade, a poesia já não imita a pintura – se é que alguma vez a imitou verdadeiramente – do mesmo modo que a pintura não imita a poesia. Porque deve o texto convocar a semiose, e não corpo, peso e matéria? Ao dissolver a relação entre as ordens do fazer, do ver e do dizer, a noção de frase-imagem convoca um campo alargado de práticas artísticas onde novos modos de apreensão estética, poética e ética da linguagem e da imagem são gerados.