As sombras e silhuetas de Almada Negreiros - vicissitudes estéticas de William Kentridge e Kara Walker
DOI:
https://doi.org/10.21747/21828954/ely23a7Resumo
A obra vasta e plural de Almada Negreiros abraça, com idêntico dinamismo e exigência identitária, a escrita autoral e a produção plástica. Desenvolveu conteúdos relevantes entre poesia, romance e contos, ensaios, manifestos e textos críticos e herméticos. Sob auspícios da visão, os exercícios de olhar, contemplar e observar debruçaram-se sobre tópicos denotativos dos entornos georreferenciados em que se moveu, plasmando motivos que viajaram entre um real múltiplo e os reinos do imaginário – simbólico, mitológico e onírico. A cartografia da sua criação viaja pela cronologia de Portugal, por Espanha (Península Ibérica), numa Europa cuja matriz se localiza na Grécia introjetando valores culturais/civilizacionais universais. Todavia, apesar de o seu ‘primeiro nascimento’ estar em S. Tomé, a herança africana, que lhe adveio por via materna, não foi enunciada em termos prioritários. Talvez os seus sucessivos nascimentos, à semelhança de Antunes em Nome de Guerra, e no caso do autor-artista-Almada, incorporassem heranças em sobreposicionalidade mostrando-se na opacidade de sombras e silhuetas, de espessura mental e vivencial. Perante o planeta almadiano, identificam-se e extraem-se convergências e denominadores comuns entre palavras e imagens – que configuram e potenciam a receção de seu pensamento estético. Os desenhos recortados/vidros pintados para lanterna mágica conduziram a um levantamento iconográfico e poético de sombras e silhuetas em Almada, enquanto reminiscências plausíveis de uma herança africana. Esta investigação foi divulgada, em contexto académico, a partir de 2017/2018. Posteriormente, deu-se continuidade ao estudo, apresentando-se contributos a expandir numa futura publicação. Atentou-se à obra escrita e à produção plástica de Almada, cartografando evidências conceituais sobre sombra e silhueta como
potenciais forças identitárias. Elaborou-se uma listagem de retratos e a extração de fragmentos literários, uma espécie de relicário almadiano por via materna, glosado na celebração estética e na recorrência da memória de sua Mãe Elvira – sombra e silhueta que atravessa a sua obra plural.