Apresentação
DOI:
https://doi.org/10.21747/2182-8954/ely18apAbstract
O número 18 da eLyra busca discutir algumas relações entre poesia e arquivo a partir de uma lógica arquivística ampla – espécie de pensamento do arquivo – no qual o significado dos documentos não depende deles em si, mas sim das leis e/ou linhas de forças que os criaram e, sobretudo, de suas formas de organização, preservação, supressão. Levando isso em conta, o modelo moderno-positivista em que arquivo signifique fonte e estocagem de documentos não só é discutido, como amplamente criticado. Naturalizar esse paradigma de arquivo implica em não ler a história a contrapelo, como pedia Walter Benjamim em seu paradigmático ensaio sobre o conceito de história. Aliás, neste número, somam-se a Benjamin, outras tantas referências teóricas para pensar as relações entre poesia e arquivo, entre elas, Michel Foucault, Jacques Derrida, Saidiya Hartman, Reinaldo Marques, Adrienne Rich, Luiz Rufino, Aleida Assmann, Márcio Seligmann-Silva, Diana Taylor e outros mais.
Esse coro sabe que um arquivo não representa o passado, mas o constrói. As formas de arquivamento e de seleção falam a respeito da construção desse passado, em um processo no qual a integridade e a fixação dos textos não se confundem necessariamente com sua imobilidade. Com isso, interpelar o funcionamento dos arquivos é dar a ver uma luta de controle das possibilidades de enunciar e não só de um controle dos conteúdos enunciados.