A escrita do poema concreto e sua recriação em vídeo
Resumo
Nos anos de 1990, uma experiência brasileira que ficou conhecida como “Poesia Visual – Vídeo Poesia” reuniu poetas e pesquisadores em tecnologia computacional para realizarem a recriação de poemas concretos em vídeo, obras que podem ser chamadas de vídeo-poemas. Embora os poemas se caracterizem por uma linguagem híbrida, verbivocovisual, na definição dos poetas Noigandres, o meio material no qual são realizados é o suporte da escrita, bidimensional e visual. Já o meio no qual foram recriados, o vídeo, difere pela aptidão em produzir virtualmente imagens em movimento tridimensional, cores em alternância e som. Essa passagem de um código para outro é concebida sob perspectivas distintas. Pela visão da ideologia de vanguarda, progressista, o poema concreto é protótipo, rascunho, ou primeira versão que só poderia encontrar na moderna tecnologia computacional a perfeita expressão. Mas segundo uma posição sincrônica da história – que participa mesmo paradoxalmente do manifesto concretista e predomina na fase pós-utópica – o poema concreto constitui-se como totalidade irredutível, escrita definitiva, que não pode ressurgir no vídeo senão como tradução.