A Poética Intransitiva de Ferreira Gullar

Autores

  • Luiz Valente

Palavras-chave:

escrita intransitiva, resistência, performativo, Gullar

Resumo

Escrito no exílio e considerado um dos pontos altos da extraordinária obra poética de Ferreira Gullar, Poema sujo (1975) é geralmente lido como um desabafo contra o regime militar estabelecido no Brasil em 1964. Mais do que apenas um depoimento sobre os desmandos do regime de 64, contudo, trata-se de um texto que insere o leitor no cerne do desenvolvimento de uma consciência poética do mundo, na tradição do Prelúdio de Wordsworth. Todavia, diferentemente da poética romântica de Wordsworth, em que a subjetividade é anterior à escrita do poema, através do qual o poeta pretende recuperar uma totalidade e inocência perdidas, em Poema sujo uma subjetividade performativa é instaurada no próprio processo do fazer poético. Desta forma Poema sujo surge como um exemplo acabado de como a escrita intransitiva identificada por Roland Barthes pode funcionar como uma forma de resistência a um presente desumanizador e dessacralizado, na qual a poesia, material e corpórea antes que espiritual e transcendente, constitui uma afirmação de um humanismo consciente de suas limitações, mas ao mesmo tempo utópico e generoso.

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Publicado

2013-12-02

Como Citar

Valente, L. (2013). A Poética Intransitiva de Ferreira Gullar. ELyra: Revista Da Rede Internacional Lyracompoetics, (2). Obtido de https://elyra.org/index.php/elyra/article/view/28

Edição

Secção

Artigos